De: Clarice Lispector. Para: Fernando Sabino
Fernando, sua carta me surpreendeu tanto! Eu tive a impressão de ter caído numa coisa assim: de jogar verde pra colher maduro.
Só agora que vejo que vocês no Rio, era uma das garantias que eu procurava. Por que é que todo mundo quer sair do Brasil? Você é espirita, é, Fernando? Então como é que você me pergunta o que que eu faço ás 3 da tarde? Ou já falamos sobre isso? Ás 3 da tarde, eu sou a mulher mais exigente do mundo. Eu fico ás vezes reduzida ao essencial, quer dizer, só meu coração bate.
Hoje eu passei o dia lendo, ás 3 horas eu li de novo a sua carta e o bilhete da Helena. Eu desejo muita felicidade a vocês, sejam muito felizes. Eu tô com vontade de dar meus conselhos grandiosos dizendo: custa pouco adaptar-se a um lugar novo etc.
Fernando, você tem trabalhado? E Helena, o que ela faz? Eu acabei de passar por uma das piores semanas em relação ao trabalho, nada presta, não sei por onde começar, não sei que atitude tomar, não sei nada. Eu digo a mim mesma, não adianta desesperar, desesperar é mais fácil que trabalhar. Me manda um conselho, Fernando, uma palavra amiga.
Um abraço grande. Me escrevam, agora que vocês sabem quanto pode valer uma carta.
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